domingo, 20 de setembro de 2015

PSEUDOTUMOR CEREBRAL ASSOCIADO AO USO DE ISOTRETINOÍNA

Olá amigos, tudo bem? Eu gostaria de continuar nossa conversa no mês de conscientização sobre a HII com mais um Relato de Caso.
https://www.facebook.com/IIH-Intracranial-Hypertension-Group-Australia-150699914977359/timeline/ "HI é uma rara doença cerebral invisível. Pesquisa é necessário para uma cura. Ela afeta 1 em cada 100.000 pessoas"

É diferente quando ouvimos e/ou lemos os possíveis fatores que elevam a pressão intracraniana e nos deparamos com casos reais, de pessoas reais.
Já trouxe para vocês em postagens anteriores (http://vencendoahii.blogspot.com.br/2015/03/mais-um-artigo-para-complementar-nossas.html), (http://vencendoahii.blogspot.com.br/2015/03/hipertensao-intracraniana-idiopatico-o.html), a lista de alguns possíveis fatores que podem desencadear a Hipertensão Intracraniana Idiopática ou Pseudotumor Cerebral e sabemos que esta lista é imensa, mas descobrir essa fator é um dos grandes desafios para ter sucesso no tratamento.
Então, vamos deixar de papo e boa leitura.

RELATO DE CASO
Paciente do sexo feminino, caucasiana, 23 anos, procurou atendimento para tratamento de acne nódulo-cística. Após resultado insatisfatório com tratamento tópico e sistêmico anterior, foi optado pela terapêutica com isotretinoína oral. O peso da paciente correspondia a 52 quilos, sendo calculada dose-alvo de 6240mg (120mg/kg). Foi iniciado o tratamento em setembro de 2011 com 20mg ao dia. Em dezembro do mesmo ano foi aumentada a dose diária de 20 mg para 40 mg. No final de janeiro de 2012, a paciente iniciou quadro de cefaléia occipital, vertigem, turvação visual e edema palpebral bilateral. Não procurou auxílio médico, interrompendo o medicamento apenas 3 semanas após o início do quadro. Na semana seguinte, retornando em consulta, a hipótese de pseudotumor cerebral foi aventada, e por avaliação da neurologia, verificou-se papiledema ao exame do fundo de olho, optando-se por internação hospitalar. Foram excluídas outras causas de hipertensão craniana, com exames de imagem sem anormalidades, e através da raquimanometria encontrou-se pressão aferida de 20cmH2O. Pela avaliação subsequente da oftalmologia, foi verificado edema palpebral e conjuntival, papiledema grau 4 bilateral e parâmetros normais pela campimetria computadorizada. Função renal e tireoideana sem alterações. O tratamento consistiu em suspensão da isotretinoína, punção liquórica para alívio da cefaléia, acetazolamina e prednisona pela persistência da visão turva. Após 1 mês houve regressão total da sintomatologia.

DISCUSSÃO
Os retinóides são amplamente utilizados para o tratamento tópico e sistêmico de várias dermatoses, como a psoríase, desordens de queratinização e acne severa, além de tratamento ou quimioprevenção do câncer de pele e outras neoplasias. A isotretinoína encontra-se em ascensão, com um aumento de 250% no número de receitas nos Estados Unidos entre 1992 e 2000. Em 2003, a isotretinoína foi colocada pela Organização Mundial de Saúde na categoria de certamente induzir hipertensão intracraniana. O mecanismo fisiopatogênico dos retinóides em desenvolver hipertensão intracraniana não é muito clara, mas postula-se que seu produto final, o ácido trans-retinóico, induza a secreção de fluido cerebroespinal e altere os constituintes lipídicos das vilosidades aracnoides. Podendo, então, interromper os sistemas normais de transporte e impedir a absorção do fluido cerebroespinal nas vilosidades aracnoides. Embora a síndrome seja relativamente benigna do ponto de vista neurológico, pode levar a inúmeras alterações oftalmológicas. O papiledema é o sinal mais relevante para a suspeita e um dado extremamente importante para o diagnóstico. Pode resultar em perda visual insidiosa e de progressão lenta, o que normalmente é reversível com o tratamento adequado. Defeitos de campo visual são extremamente comuns nos pacientes com síndrome do pseudotumor cerebral, e podem acometer entre 49-87% dos pacientes durante alguma fase da doença. O diagnóstico é essencialmente de exclusão. É necessária uma avaliação completa incluindo atenciosa anamnese, avaliação oftalmológica e neurológica e exames complementares (análise do líquor e neuroimagem) para descartar uma causa secundária de hipertensão intracraniana. O preenchimento dos critérios diagnósticos (Tabela 1), juntamente com a investigação sobre uso dos fármacos associados e com a exclusão de uma causa secundária, diminui consideravelmente as chances de confusão ou atraso no diagnóstico da síndrome. Não deve haver evidências de hidrocefalia, massa tumoral, lesão vascular ou estrutural ao exame de imagem, além de composição normal do liquor. Para pacientes que estão em uso de retinóides, deve ser evitada a utilização concomitante de tetraciclina ou vitamina A, pois podem potencializar seus efeitos no sistema nervoso central. Os pacientes que estão em tratamento com retinóides orais e se queixam de inexplicáveis dores de cabeça ou sintomas visuais, devem comunicar imediatamente o profissional médico responsável.


Revista da SPDV 72(3) 2014; Luana Oliveira Ramos, Paloma Mattos, Patricia Akel e cols.; Pseudotumor cerebral associado a isotretinoina


 Fonte: http://revista.spdv.com.pt/index.php/spdv/article/view/288


Nenhum comentário:

Postar um comentário