Maio é um mês muito especial então resolvi buscar alguns artigos para nós: Mamães e futuras Mamães.
Tive contato com este texto no Site da AME - Amigos Múltiplos pela Esclerose e achei muito interessante, além de me identificar com tudo. Aliás, apesar de não sermos portadores de Esclerose Múltipla, apesar de alguns portadores de EM também desenvolverem a Hipertensão Intracraniana, as doenças neurológicas levam a sintomas e lutas diárias bem parecidas, por isso vale a pena conhecermos, e o Site está recheado de matérias interessantes e divertidas para todos.
Um abraço carinhoso e boa leitura.
Como a
maternidade modifica o cérebro
"Para garantir uma experiência bem sucedida nos
cuidados com o bebê, o cérebro das mães passam por modificações que as tornam
mais ágeis e empáticas e menos reativas ao stress.
A maternidade é revolucionária. Chega
anunciada por pequenas mudanças no corpo, como ondulações atípicas no oceano
sinalizam a chegada de um furacão. Logo se impõe de forma que as transformações
ficam evidentes e todo o corpo se rende. A gravidez mexe com os sentidos, muda
pele, cabelos, respostas imunológicas. Bagunça rotina e planos. E, de uma forma
mais profunda, muda quem somos.
Todos aqueles anseios e inseguranças
que geralmente acompanham os primeiros passos da maternidade seriam suavizados
se lembrássemos de que a natureza, de forma silenciosa, nos prepara para
enfrentarmos o desafio com sabedoria. Dentre tantas outras que ela se encarrega
de providenciar, as mudanças no cérebro da mãe são mais importantes e também
menos esperadas ou compreendidas pelas mulheres.
A principal responsável pelo
comportamento que entendemos como instinto materno é a ocitocina, uma molécula
considerada por muitos como o hormônio do afeto, da ligação amorosa. Sem a dose
extra dessa substância, liberada no parto e durante a amamentação, o stress
causado pelas noites sem dormir, choro incessante e visitas que chegam
disparando palpites transformaria a maternidade em um verdadeiro tormento. A
formação do vínculo com o bebê seria dificultada e menos prazerosa. E o risco
de abandono materno se multiplicaria.
Sob o ponto de vista neurocientífico,
a maternidade se parece muito com a paixão romântica e com o vício em drogas.
Os receptores de ocitocina estão espalhados no cérebro, em regiões também ricas
em dopamina - o neurotransmissor ligado ao prazer e recompensa. Assim, a
atividade cerebral de uma mãe quando cuida de seu bebê é semelhante a de alguém
em contato com o objeto de seu vício ou de um apaixonando ao ver o rosto de seu
companheiro. Para garantir a sobrevivência da espécie, a natureza criou esses
circuitos de recompensa que fazem com as exigências vindas com o bebê sejam
supridas com prazer.
Para quem não passou por um parto,
pode ser difícil compreender o que tantas mulheres querem dizer com
"amamentar é muito bom" ou quando afirmam que têm "saudade de
amamentar o filho". Pode-se racionalizar e relacionar o ato à certeza de
estar nutrindo o filho, por exemplo. Mas seria como justificar uma paixão:
pouco a razão tem a contribuir para sua compreensão.
Na
verdade, o que acontece é uma mistura de substâncias fundamentais para o
sentimento do amor - como ocitocina, dopamina e endorfinas. "Essas
substâncias evocam a sensação de afeto e contentamento, a sensação de estarmos
no lugar certo. Isso, é óbvio, não compreende todas as nuances do amor, mas é
um de seus elementos dominantes", destaca o escritor Steven Johnson no
livro De Cabeça
Aberta (editora Zahar).
A ocitocina também tem um papel
importante no controle da ansiedade e stress. Mulheres em fase de amamentação
respondem de forma diferente a estímulos estressantes. Por isso, ao invés de
ativar seu circuito de luta ou fuga numa situação de perigo, evolutivamente é
mais interessante que lactantes estejam mais focadas na proteção da família e
busca de ajuda e formação de vínculos sociais.
As alterações trazidas pela
maternidade não estão apenas no aumento do nível de certos neurotransmissores.
Com o nascimento do filho, há um aumento na atividade da amígdala, região que
processa respostas emocionais, como medo e ansiedade, tornando as mães mais
sensíveis às necessidades do bebê. Essa região concentra muitos receptores aos
hormônios liberados nessa fase, gerando uma resposta positiva a esses
estímulos. Experiências negativas com relação à maternidade podem estar
relacionadas a uma disfunção na amígdala.
Há também muitas evidências de que a
maternidade melhora a memória (depois do nascimento), a capacidade de focar em
várias tarefas ao mesmo tempo e a agilidade mental. Em experiências com
ratinhas, em 2013, o biólogo de Longwood University Adam Franssen comprovou que,
em comparação com as ratas virgens, as mães aprendiam mais rapidamente a sair
de um labirinto. Elas também saíram-se muito melhor nos desafios que envolvem
memória, como lembrar onde está a comida.
Outra vantagem das mães é sua baixa
reatividade ao stress em desafios e situações novas. Há diversos estudos
mostrando que animais lactantes apresentam níveis mais baixos de stress e
ansiedade. Frente a sinais de perigo, as ratas protegem seus filhotes reagindo
de forma mais eficiente e ágil. Experiências no laboratório do professor Craig
Howard Kinsley, um grande pesquisador do comportamento maternal e professor do
centro de neurociências da Universidade de Richmond, mostrou que as mães são
muito mais rápidas para capturar suas presas. O tempo médio que as ratinhas
virgens levaram para encontrar e apreender grilos escondidos era de 270
segundos, contra a média de apenas 50 segundos que as mães precisaram para
concluir a tarefa.
Atributo importante no cuidado, proteção e criação dos filhos, a empatia,
evidências indicam, ganha poderes com a maternidade. Segundo Franssen, as mães
têm maior capacidade de reconhecer as emoções mais sutis nas expressões
faciais. As reações emotivas e extremamente sensíveis das mães de
recém-nascidos podem derivar de um ganho nas percepções e na sua maior
habilidade empática e de afeto. Ainda não se comprovou quais dessas mudanças
biológicas seriam permanentes, mas os cientistas que se dedicam a essas
investigações acreditam que cérebro de mãe permanece diferente em muitos
aspectos.
Portanto, em meio a tantos conselhos
e alertas - muitos assustadores -, preparativos e anseios, fica às futuras
mamães um consolo valioso, que poucos dão o destaque que merece: a maternidade
tira tudo do lugar, mas compensa trazendo calma, paciência, novas habilidades,
um prazer imenso e uma ligação mágica com o filho."
Jornalista com
especialização em neurociências, escreve para a revista Psique e outras
publicações de conteúdo científico
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